Desporto saudável dispensa futebol e "guerreiros de fim-de-semana"
Nem todos os desportos são recomendados para todo o tipo de doenças. E o futebol deve mesmo ser a última escolha para quem quer fazer desporto de forma saudável. "Não é uma opção favorável. Por piada até se costuma dizer que o futebol foi desenvolvido por ortopedistas", diz Jaime Milheiro, um dos mais reputados especialistas portugueses em Medicina Desportiva.
"Recomendaria antes a bicicleta, a natação ou o ténis, por exemplo. O futebol é um desporto algo traumático, pelo impacto da corrida no organismo, pelo contacto físico e pela possibilidade de entorses ou lesões", justifica.
Jaime Milheiro diz que a possibilidade de uma pessoa começar a jogar futebol depois de um longo período de inactividade deve ser posta de lado, sob pena de poderem ocorrer graves problemas de saúde: "O coração não está disponível para toda aquela estimulação." Nem sequer um jogo de vez em quando com os amigos produz grandes resultados.
"Há quem lhes chame os guerreiros de fim-de-semana, pessoas que se encontram de vez em quando para jogar futebol. Desses jogos, a maior parte das vezes sai um cliente para o médico, seja por rotura muscular, entorse ou lombalgia", conta.
O especialista explica que a práti- ca de exercício físico produz dois tipos de benefícios para a saúde: centrais e periféricos. Os primeiros melhoram o sistema cardíaco e respiratório. Os segundos, actuam mais a nível muscular. Mas há regras a respeitar. E uma das mais importantes é sem dúvida a repetição frequente. "Só temos a chamada adaptação se repetirmos o exercício a cada 48 horas ou no prazo máximo de 72 horas." Mais do que isso será desperdiçar os efeitos benéficos da prática desportiva. "Uma pessoa que faz exercício uma vez por semana está sempre a repetir o primeiro treino."
Secretário-geral da Associação de Cicloturismo do Porto, Carlos Veloso é praticante da modalidade há mais de 30 anos. "Comecei muito novo, quando tinha 19 anos, e nunca mais parei." Agarrar na bicicleta e dar umas pedaladas depois de um dia de trabalho ou ao fim-de-semana é uma rotina seguida por um número crescente de portugueses, dos quais cerca de quatro mil são federados. "Trata--se de um escape para o stresse acumulado durante a semana."
Para Paulo Jaleco, médico no Hospital de Évora que por diversas vezes foi responsável médico da Volta ao Alentejo em Bicicleta, uma das grandes vantagens do ciclismo é o facto de se tratar de um desporto que não exige "momentos de explosão" aos atletas. "É pedido um rit-mo continuado, que permite uma melhor oxigenação dos tecidos e uma mais fácil adaptação ao esforço, com benefícios ao nível do funcionamento do aparelho cardiovascular", explica.
À psicóloga clínica Ana Marisa Brito não faltam exemplos concretos sobre os benefícios para a saúde da hipoterapia (terapia em que são utilizados cavalos): "Tive uma praticante com diagnóstico de paralisia cerebral e que caminhava em completo desequilíbrio, parecendo que cada vez que dava um passo iria cair para a frente", recorda. "Após dois meses e pouco a beneficiar de sessões de hipoterapia,passou a caminhar com uma postura correcta e completamente direita."
Os bons resultados repetem-se noutras doenças: "Um menino autista típico que não interagia com terceiros, que não realizava construções de palavras, apenas limitando o seu vocabulário a ecolalias [repetições] de anúncios de televisão, após seis meses de sessões passou a construir frases, a pedir interacção com o outro, a fixar-nos através do seu olhar, como faria uma criança sem este diagnóstico." Em tom de brincadeira, Ana Marisa Brito diz que o essencial se ficou a dever à "magia" da interacção com os animais. Eles julgam-nos "por quem somos interiormente e pelo que afectuosamente nos dispomos a oferecer", remata.